Comunicação não violenta: o que é e como praticar?

Nosso condomínio é um espaço de convivência com diversas pessoas, com diferentes personalidades, necessidades e desejos. Se relacionar e comunicar bem com cada uma delas é fundamental para a manutenção do bom ambiente do condomínio.
Uma alternativa cada vez mais procurada para evitar discussões e problemas é a comunicação não violenta. Através dela as relações interpessoais se tornam mais leves e menos conflituosas.
Quer conhecer um pouco mais sobre essa abordagem e saber como você pode começar a aplicá-la? Confira o nosso post e saiba tudo sobre comunicação não violenta.
O que é comunicação não violenta?
A comunicação não violenta é uma abordagem para se relacionar com outros indivíduos de maneira menos agressiva e mais empática. Ela foi criada na década de 1960 pelo psicólogo americano Marshall Rosenberg e a sua definição é:
“…é baseada nos princípios da não-violência – o estado natural de compaixão quando a não-violência está presente no coração. A comunicação não violenta começa por assumir que somos todos compassivo por natureza e que estratégias violentas — se verbais ou físicas — são aprendidas ensinadas e apoiadas pela cultura dominante.
Comunicação não violenta também assume que todos compartilham o mesmo, necessidades humanas básicas, e que cada uma de nossas ações são uma estratégia para atender a uma ou mais dessas necessidades.”
Através dessa abordagem podemos enxergar de maneira empática as necessidades e dores das pessoas que nos relacionamos, uma vez que permitimos que o outro nos entenda e também mostre o que está acontecendo dentro dele.
Agora que você já entendeu um pouco mais sobre a CNV, deve estar se perguntando como praticá-la no seu dia a dia, não é mesmo?
Como praticar a comunicação não violenta
Para aplicar a comunicação não violenta existem algumas ações e passos que podem ser tomados por quem deseja começar a se conectar e relacionar melhor com os outros.
As ações envolvem a tomada de consciência interna (do que está acontecendo dentro de você) e externa (o que está acontecendo com o outro) e depois disso, tentar resolver o que precisa ser resolvido dos nossos conflitos.
Nesse processo, podemos seguir alguns passos que nos ajudam a ter conversas mais saudáveis e menos agressivas:
Observação: o primeiro passo é fazer observações sobre as ações ou falas da pessoa que estão nos incomodando ou gerando conflito.
Lembre-se de que essas observações sempre devem ser baseadas em fatos, e não em nossas interpretações ou sentimentos sobre o que a pessoa quis dizer com suas atitudes.
Sentimentos: depois de observar os pontos de conflito, você deve voltar para si mesmo e identificar os sentimentos que estão sendo aflorados dentro de você a partir das atitudes da pessoa.
Quando listar os sentimentos que despertam em você, utilize palavras que sejam sentimentos e não julgamentos. Por exemplo, evite expressar seu sentimentos em frases como “sinto como se você não me ouvisse” ou “sinto que não você não respeita a minha autoridade”.
Necessidades: agora é hora de identificar as necessidades geradas pelos sentimentos. Se você se sentiu frustrado, qual a necessidade que não foi atendida e que gerou essa frustração?
Depois disso, você precisa comunicar as suas necessidades. Por exemplo, ao invés de dizer “sinto como se você não me ouvisse” você pode analisar e entender quais necessidades não foram atendidas e comunicá-las: “estou irritado porque gostaria que você ouvisse as minhas sugestões de melhoria para a piscina do prédio”.
Pedido: depois de entender as nossas necessidades é o momento de fazer outro pedido deixando claro as necessidades que desejamos que sejam atendidas.
Durante a conversa todas essas questões podem ser levantadas, para que fique claro o que está acontecendo na relação.
Você pode seguir esse passo a passo: comunique as suas observações, a partir do que aconteceu ou foi dito, depois explique o que você sentiu a partir dessas atitudes, além do que você precisa ou não está sendo atendido e, por fim, faça um pedido claro do que você deseja.
Papo com especialista
Convidamos a especialista em comunicação não violenta, Dra Ana Maria Fagundes Rocha Marques, Consultora em Desenvolvimento Humano, facilitadora de Práticas Dialógicas e Colaborativas (Desenvolvimento de Habilidades em Comunicação e Acadêmica de Psicologia – FTEC/IBGEN, para responder algumas dúvidas sobre o assunto.
- Qual a importância da comunicação não violenta nas relações de trabalho?
Ao convivermos e nos comunicarmos, poderemos nos afastar ou nos aproximar do outro. Assim, nos utilizamos de determinada linguagem para emitirmos um conteúdo que vai ser recebido em um determinado contexto, momento, dependendo portanto da escuta daquele que recebe. Após, acionamos estratégias para que nossas necessidades sejam atendidas.
Nas relações de trabalho não é diferente. A CNV em seu processo e metodologia promove uma comunicação clara, honesta e empática entre as pessoas. Portanto, ao conhecer, aprender e praticar a CNV as pessoas desenvolvem a habilidade de compartilharem soluções positivas aos conflitos que satisfaçam as necessidades dos envolvidos.
Portanto, um local de trabalho onde as relações se estabelecem de forma respeitosa, resolutiva quando surge um conflito, com a CNV, teremos menos estresse prevenindo futuros investimentos em saúde tanto para empresa quanto para o trabalhador, além de prover um ambiente de trabalho com mais qualidade de vida.
Como é um processo, é preciso mudar hábitos como não julgar, dar e receber empatia, identificar os seus sentimentos, suas necessidades diante das situações, estando mais consciente no aqui e agora, para depois estar presente com o outro e identificar seus sentimentos, necessidades para que ambos estrategicamente escolham o que é melhor para eles. Além do trabalho, amigos, família, conhecidos, comunidade e sociedade também se beneficiam com a CNV.
- Quais as dificuldades em utilizar a comunicação não violenta?
Acredito que é a mudança de crenças e hábitos. Diante da correria diária, dos diversos compromissos que precisamos cumprir, mal temos tempo para revisitar nosso dia, que situações nos afetaram negativa ou positivamente. Ligamos o “automático” e nos preparamos para o dia seguinte. Marshall nos ensinou que desde há 8.000 anos aprendemos que a comunicação deve ser com base em poder e punição, de forma opressiva e disciplinatória, entre o certo e o errado, com julgamentos. Desta forma, não julgar também é muito difícil.
Penso que a grande dificuldade é achar que a CNV é uma simples técnica a ser aplicada para o outro, de forma que ele faça o que quero, ledo engano. Nestes 15 anos de aprendizado diário, percebi a importância que é estar consciente de nossas emoções, sentimentos e necessidades. Embora já saibamos o que fazer, aprendemos a ser reativos a uma situação de conflito ou com quem não está de acordo com nossas crenças, com argumentos contrários, julgando e culpabilizando a si ou ao outro. Não paramos para observar o fato e perceber de que forma ele nos impacta, qual sentimento que provocou e qual a necessidade que não foi atendida. Todos precisamos estar em harmonia interna, inclusive para colocarmos em prática a CNV. Isto é saúde mental e física. Ressalto que a CNV é primeiro para mim, depois para o outro. Pois, depois deste processo interno, que requer treinamento e prática, partimos para a próxima etapa que é identificar no outro a mesma situação: suas emoções sentimentos e necessidades. Só então partimos para acordos, estratégias de autocomposição para solucionar conflitos. Salientamos que em um bom papo, nos conectarmos com pessoas e amigos em situações cotidianas prazerosas a CNV é muito bem-vinda, percebemos que estamos sendo plenamente escutados. Por isso criar grupos de prática, além de ser agradável, vai dissolvendo as nossas barreiras, aprimorando este tipo de comunicação.
- Existe alguma situação de trabalho em que a comunicação não violenta não pode ser aplicada?
Ainda não percebi isto embora, o próprio Marshall fale que em uma situação de extrema necessidade de sobrevivência, defesa ela não se aplica pois, o próprio organismo ainda não se encontra em condições de executar todo o processo que requer atenção plena no aqui e agora – estar presente. Em uma situação de conflito muito exacerbada em local de trabalho, creio que antes é primordial aquietar os ânimos para mais tarde utilizá-la na mediação de conflitos.
- Qual a melhor forma de mapear os sentimentos causados por uma comunicação violenta?
Estar conectado consigo. Observar o impacto que a violência, o fato teve em mim, quais as emoções e sentimentos que ela despertou. Medo, tristeza, raiva, nojo? Indo um pouco adiante, que necessidades não foram atendidas para que estes sentimentos despertassem? Necessidade de segurança, amor, cuidado, respeito? Para então, na busca de harmonia interna questionar-se o que pode ser pedido ao outro para que enriqueçamos nossas vidas. Não se trata de uma imposição, ou uma resolução boa apenas para mim. Precisa ser para nós. (fazer o pedido que seja enriqueça a vida de ambos)
- Existem livros sobre CNV que você indica para quem deseja aprender mais sobre o assunto?
Sim! O livro que me acompanha no dia a dia e nos cursos livres de introdução à CNV: Comunicação não violenta: técnicas para aperfeiçoar relacionamentos pessoais e profissionais de Marshall Rosenberg.
- Quando percebemos que alguém está se comunicando de forma violenta como devemos agir?
Inicialmente ter o entendimento que a violência é aprendida e pode ser “desaprendida”. Perceber que quando alguém está sendo violento é porque suas necessidades não estão sendo atendidas. Qual o impacto disto em mim? Fazer o processo da CNV para nós dois:
Autoconexão:
- O que observo (sem julgar);
- Que sentimentos este fato desperta em mim?
- Quais as minhas necessidades diante deste fato?
- Qual o pedido que poderei fazer para que ambos enriqueçam suas vidas?
Conexão com o outro:
- O que observo (sem julgar);
- Que sentimentos este fato está despertando no outro?
- Quais as suas necessidades diante deste fato?
- Qual o pedido que poderei fazer para que ambos enriqueçam suas vidas.
Geralmente, no diálogo estabelecido esta metodologia é aplicada simultaneamente. Com a prática, vai se tornando natural. Ambos passamos a construir soluções. Como dito anteriormente, se o nível de violência for muito elevado, tranquilizar os envolvidos para que depois retomem o diálogo utilizando a CNV.
Você tem mais alguma dúvida sobre comunicação não violenta que gostaria que fosse respondida? Deixe nos comentários e vamos debater juntos.
Fonte: Blog do TownSq
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